Somos porcos-espinhos?

“O problema da humanidade, correr o risco de morrer congelado ou conviver com as pessoas, sabendo que elas têm espinhos”


O que é estar só? É uma questão aparentemente simples de ser respondida, mas também se trata de um problema filosófico muito discutido. A maior questão é saber se a solidão é boa ou ruim, qual o significado de estar só e ser sozinho, e como encarar a solidão de frente, sem pender nem para a misantropia nem para uma depressão aguda. 

A solidão é amplamente abordada pela literatura mundial, pela filosofia, pela arte cênica, plástica e audiovisual, sem contar as diversas músicas que falam desse sentimento humano, e por que isso? Porque o ser humano ainda não compreende o que é esse sentimento.

O filósofo Arthur Schopenhauer, escreveu uma pequena fábula que ilustra bem a relação do ser humano com a solidão: o dilema do porco-espinho. Nela um grupo de porcos-espinho, está num inverno intenso, e para não congelarem, se aproximam uns dos outros, mas o que deveria ser uma troca de calor, acaba sendo um sofrimento já que os espinhos ferem a todos. O dilema do porco-espinho é a dúvida entre se afastar totalmente dos outros, e morrer congelado, ou se juntar aos outros e ser constantemente ferido. Como solução, Schopenhauer diz que os porcos-espinhos encontraram uma distancia segura, em que não congelariam nem se machucariam.

Seria esse também o problema da humanidade, se afastar de todos para não se ferir, e correr o risco de “morrer congelado” ou conviver com as pessoas, sabendo que elas têm “espinhos” e que podem nos ferir diariamente. Este questionamento geraria a solidão, uma vez que causa a dúvida sobre a necessidade de viver em sociedades/grupos, e a tristeza de não conseguir viver nesse meio e precisar se afastar.

Há um meio termo: manter a distância certa, para não congelar e não ferir. Ao encontrar esse ponto a solidão pode ser substituída pela solitude, que é o bem estar consigo mesmo, e que permite que você se sinta bem, completo e feliz seja sozinho ou quando estiver entre várias pessoas.

A solidão é um mal, ela faz você crer que estar sozinho é um problema, e que por não se sentir bem no meio de outras pessoas deva ficar sozinho, como uma punição, e que gera sempre sofrimento. A solidão só existe quando ela é percebida como algo negativo, o que não significa que estar só seja um problema, mas sim que seu olhar ela é negativo.

Enquanto isso a solitude é o prazer de estar consigo, é plenitude de espírito e sentimento de que nada falta. Você não precisa estar entre amigos para ficar bem, ao contrário, você gosta de estar entre eles porque você está bem consigo. A solitude diz respeito à introspecção e a capacidade de alguém conhecer a si mesmo e saber conviver com seu interior e exterior da melhor forma.

Portanto, estar sozinho deve ser seu melhor momento, aquele que você passa a compreender quem é e trabalha para a superação de seus defeitos, o que reflete imediatamente no seu relacionamento com os outros.


(Esse texto é de Eliza Menezes e foi publicado originalmente em edições impressas e no site do Jornal Roraima em Tempo)

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