Repetições para Nei Costa

(Foto: Elvis Freitas)

Sempre penso muito antes de escrever qualquer coisa, afinal, quando faço isso sem pensar, geralmente, dá merda. Baseado nessa constatação, não havia postado nada sobre o Nei no começo do dia. E agora, no início (na verdade meio quando consegui terminar o texto) da noite, eu continuo sem ter certeza do que escrever. Mas, apesar disso, eu decidi tentar.

O que eu mais me perguntei desde o início da manhã, desde 6h quando recebi a notícia, foi o que dizer sobre o Nei? Edgar Borges e Érico Veríssimo responderam essa pergunta muito bem nos seus textos e o Sérgio Paulo fez isso de maneira absurdamente competente em sua charge.

É claro que eu apenas repetiria o que já foi dito ao afirmar que o Nei vai fazer falta, que era um jornalista fantástico, uma pessoa muito gente boa, um grande chefe, professor e amigo. Talvez eu me repetisse dizendo que o Nei viveu cada momento da vida de uma maneira muito intensa e por causa disso sempre tinha uma excelente aventura pra contar e, por isso mesmo, vivia contando suas aventuras. Ele as contava sempre daquele jeito bem característico: cheio de detalhes, floreios e, quando se tratava de algo engraçado, geralmente rindo bem antes do final da história.

É óbvio que eu também me repetiria dizendo que o Nei era um tipo fantástico, daquele que as vezes você tem vontade de odiar, mas mal consegue ter raiva, pois sabe que, no fundo, ele não fazia por mal. O Nei era o Nei. E talvez eu até fosse preso por crime de repetição se dissesse que me sinto privilegiado por tê-lo conhecido e por considerar Nei um amigo.

Mas, sinceramente, o que eu percebi durante esse dia é que, mesmo correndo o risco de ser preso por me repetir novamente, uma das coisas que pretendo fazer pelos próximos anos é exatamente me repetir sobre Nei Costa. Lembrar de sua memória, das suas aventuras, suas jogadas e tudo aquilo que fazia parte do impagável, incomparável, mas nunca imprestável pacote Nei Costa.

Sinto-me feliz por ter feito parte dessa história e por saber que, mesmo não estando tão próximo dele nos últimos anos, as minhas memórias mais recentes do Nei, são memórias de situações cheias de alegria. Tenho o privilégio de dizer que meus últimos momentos ao lado dele, pelo menos as três vezes últimas vezes que nos vimos e passamos tempo juntos, foram extremamente felizes, passagens cheias de conversas, piadas e comemoração.

No meu entender, essas lembranças só tornam todas as outras memórias que tenho dele, sejam aquelas de momentos difíceis (as pindaíbas de um ou de outro), do trabalho (ele na posição de editor chefe e eu de repórter) ou na sala de aula (sendo impossível esquecer aquele professor com jeitão engraçado, que não cobrava muito, tinha uma metodologia que parte da turma contestava, mas mesmo assim sempre conseguia ensinar algo útil, deixar uma mensagem importante pra uma turma de aspirantes a jornalistas), memórias ainda mais especiais.

Arrependimentos? Talvez dois, o primeiro de não ter batido na porta do Roraima Hoje, entre 2007 e 2009, para pedir uma vaga como estagiário. Caso tivesse feito isso e tivesse sido aceito pelo Nei, penso que teríamos sido colegas de trabalho por muito mais tempo e, em razão disso, eu conheceria ainda mais sobre ele. O segundo arrependimento é o de não ter me repetido mais sobre Nei Costa e o privilégio de ser seu amigo, aluno ou subordinado (ou os três ao mesmo tempo) enquanto ele estava vivo.

Vá em paz Nei Costa. Contaremos sobre suas aventuras para os próximos que aparecerem nestas bandas cometendo a audácia de se classificarem como jornalistas As histórias de um cara foda, um arrombado que saiu de Pocrane para dominar o Extremo Norte do Brasil. Até uma próxima vez.

Texto publicado originalmente no Facebook de Pablo Felippe, com o título de "Precisamos falar sobre Nei", no dia 30 de outubro de 2020. A crônica é uma homenagem póstuma ao jornalista Nei Costa, falecido na data da publicação original.


Texto de Pablo Felippe

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