Morte: um bem ou um mal?

“Heidegger diz que o “homem é um ser que caminha para a morte”, enquanto Montaigne afirma que “meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade”, pois quem não teme a morte é verdadeiramente livre.”


Filosofar é se preparar para a morte. Essa frase que parece carregada de frieza, foi dita por Sócrates, enquanto explicava que só através da filosofia podemos encarar a morte de maneira menos temerosa. A filosofia permite que você conheça a si mesmo, entenda seus medos e compreenda como eles são irracionais, para então poder viver bem, e ter uma morte tranqüila, sem perturbações.

Além de Sócrates, outros filósofos se dedicaram a investigar a morte. Platão buscou junto à religião órfico-pitagórica uma explicação para a morte, e baseou a sua Teoria do Conhecimento na crença da imortalidade da alma. Schopenhauer escreveu o livro “A metafísica da morte”, apontando que nós somos um com o mundo, e que quem entende isso compreende que não há diferença entre nós e o que vem após a morte.

Na literatura filosófica vemos muitos discursos sobre a morte, sobre a nossa consciência de vida, pois nos diferenciamos dos animais no momento em que aquele vive como se a vida fosse infinita e nós, sabendo que ela terá um fim, o que seria a explicação do porquê os animais são felizes e os humanos nem sempre o são. Nietzsche diz que muitos são covardes, e desejam a morte, mas só o fazem quando ela já é evidente.

Heidegger diz que o “homem é um ser que caminha para a morte”, enquanto Montaigne afirma que “meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade”, pois quem não teme a morte é verdadeiramente livre. Você pode escolher o que ler, em que acreditar, mas uma coisa é certa: você passará pela experiência de morte. E isso não significa que você vai morrer, mas em algum momento terá que lidar com a morte de alguém. O quanto você ignora ou se dedica a compreender o assunto interfere diretamente na sua postura perante ela.

Há um filósofo que trata a morte de uma maneira bem natural, que foi essencial para mim, Epicuro. Fundador do Jardim de Epicuro, esse filósofo viveu no período após a invasão macedônica, em Atenas. Escreveu alguns livros sobre a sua filosofia, que se perderam durante os períodos de guerra, o que chegou a nós foram três cartas que escreveu a discípulos. Muitos de seus ensinamentos estão nessas cartas, e é na Carta a Meneceu, ou Carta sobre a Felicidade, que ele fala sobre a morte.

Nela diz: “Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações, (...) justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui.”

Não há porque se afligir diante da morte. Devemos viver honestamente, para que quando a morte nos encontrar estejamos tranquilos. E Viva la Muerte!


(Esse texto é de Eliza Menezes e foi publicado originalmente em edições impressas e no site do Jornal Roraima em Tempo)

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