Baile de Máscaras

“A pior máscara é aquela que usamos todos os dias para esconder quem realmente somos”

O Carnaval foi criado na Europa como uma festa católica, para que as pessoas celebrassem com muita comida e bebida o período que antecede o jejum da Quaresma. A festa se expandiu por todos os continentes, ganhando características específicas em cada um deles. No Brasil, sofreu influencias diretas dos bailes de máscaras parisienses e venezianos, criando também a tradição dos carros alegóricos, inspirados nas gôndolas enfeitadas de Veneza.

O exagero do brilho e plumas, a irreverência das fantasias e pinturas corporais são marca registrada do carnaval brasileiro. Mas toda produção feita não se limita a pontuação que cada ala pode conseguir na apuração dos votos, existe outro ponto que merece atenção, que é a vontade de ser o outro, presente tanto nos foliões dos trios elétricos como nas mais bem enfeitadas passistas. 

Essa vontade que se sobressai nos períodos festivos, pode ser vista no uso das fantasias, e pela proposta cativante que ela apresenta: fazer tudo o que é permitido. Você pode passar despercebido, como se usasse um manto de invisibilidade, que encobre quem está por trás e lhe permite voltar na quarta-feira de cinzas a ser a pessoa que sempre foi. Mas esse desejo é mantido em segredo no restante do ano, pois ela nada mais é que a covardia que nos prende a mesmice de todo dia. É o medo da mudança, do arrependimento e de “passar vergonha”. Essa vontade que parece muito autêntica é fruto do nosso meio social, que nos prende nos obrigando a seguir a mesma fórmula que todos.

Mas ela pode também revelar nosso verdadeiro eu. Uma pessoa que se guarda o ano inteiro para extravasar suas ações e emoções no carnaval, não sairá na avenida para fazer a mesma coisa que faz todos os dias, e isso pode ser para o bem, ou para o mal. 

Encontramos pessoas de todos os tipos nas festas de carnavais, uns mascarados completamente alterados, que evitamos ficar muito tempo perto, e outros que conseguem se divertir sem causar nenhum transtorno, ainda que estejam fantasiados, pois também não querem expor quem são no dia a dia.

Mas e aí, é proibido/errado se fantasiar para se divertir? Não. Cada um vive sua vida do jeito que pode e quer, se sair no bloco lhe constrange e estar mascarado resolve tudo, não há mal nisso. O mal está em usar do disfarce para fazer o que não é correto em nenhuma situação. A fantasia não pode ser usada como pretexto para um delito, nem como fuga após cometê-lo.

Minha dica é que você, se fantasiando ou não, nos próximos carnavais celebre a vida, a alegria e a paz, mas que quando tirar a fantasia, não tire junto os seus sonhos, desejos e felicidade. Quem você é no seu dia a dia deve ser a melhor parte de você, e se a fantasia mostra quem você realmente deseja ser, talvez seja a hora de pensar em quem você é sem ela. Creio que a pior máscara é aquela que usamos todos os dias para esconder quem realmente somos.

(Esse texto é de Eliza Menezes e foi publicado originalmente em edições impressas e no site do Jornal Roraima em Tempo)

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