Filosofia: problema ou solução?

“É preciso que haja pessoas que se submetam a condições precárias de trabalho sem refletir sobre seus direitos”


Quando pensamos em filosofia logo nos vem à mente os pensadores gregos, que são lembrados como precursores dessa ciência, no entanto, há algo que nos diferencia significativamente dos gregos: a maneira como compreendemos o papel da filosofia.

Durante a Antiguidade, momento em que a filosofia se desenvolvia, surgiram muitas teorias para explicar desde o surgimento do Universo até questões tipicamente humanas, mas o que igualava o pensamento dos vários filósofos era ver a filosofia como um modelo de vida. As teorias pensadas e discutidas nesse período, sempre foram tratadas como necessárias para a formação do homem, e por isso, eram, sobretudo teorias praticáveis. Uma teoria que não carregava características práticas era abandonada com o tempo, assim, a filosofia se fortalecia cada vez mais como modo de vida.

A ideia de filosofia como ciência especulativa, que temos hoje, surge a partir do Século XVIII, quando já havia se transformado em uma disciplina acadêmica. A partir desse período a filosofia ganha mais visibilidade como ciência especulativa, sem abandonar seu caráter prático, apesar de aos poucos deixar de ser estimulado. 

Essa transformação da filosofia pode ser justificada pela aceleração do crescimento populacional e grande necessidade de trabalhadores nas linhas de produção. Isso porque a filosofia instiga a reflexão e o raciocínio sobre a realidade imediata, o que dificultaria no recrutamento de trabalhadores. 

Desde muito cedo o mercado de trabalho se posicionou contra a necessidade de estudo para as classes mais baixas, deixando para grande parte da população a crença de que os estudos não eram necessários, já que as vagas para trabalhadores especializados eram poucas se comparadas com a necessidade de trabalhadores braçais, e para suprir essas vagas é preciso que haja pessoas que se submetam a condições precárias de trabalho sem refletir sobre seus direitos e os deveres dos donos das empresas.

Essa reflexão só é colocada para esses trabalhadores de forma utópica, enquanto poderia ser parte da formação deles através do ensino da filosofia na educação básica, que deveria se expor como uma ciência especulativa, mas que trouxesse em si as condições necessárias para também ser um modo de vida de qualquer cidadão. A filosofia deveria ser usada como auxílio na busca para uma vida melhor, o que só é possível com uma educação de qualidade, que permita ao cidadão compreender a parte prática e a especulativa, podendo assim, transformar sua vida, e ser capaz de escolher qual papel ele quer desempenhar na sociedade, ao invés de ser induzido a péssimas condições de vida e de trabalho por não ter a possibilidade de escolha, que lhe é tirada ao não permitirem uma educação justa, com o ensino da filosofia que é a responsável pela formação humanista do individuo.


Texto de Eliza Menezes

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