Estranha sorte

 Há muito tempo

Que venho vivendo

E me escondendo

Por entre panos


Há muito tempo

Que venho sofrendo

E gemendo

Contando os anos


Há muito tempo

Eu venho morrendo

E lentamente

Perdendo os ânimos


Mas nem isso me consome

Por inteiro


Me deixa sempre

Um gosto derradeiro


Um gosto doce

Que por entre os panos


Passando os anos

Eu venho lembrando


E desejando


Mas que não alcanço


Porque esse doce

Não mais existe


Os panos

Não mais existem 


Até os anos

Já foram sem paz


E agora restou-me

Sentar e esperar


Que a brisa do mar

Me traga a morte


Se eu tiver sorte...


Poema de Eliza Menezes

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